Por muito tempo, a ideia de objetos viajando entre estrelas parecia coisa de cinema. Filmes como Interestelar ajudaram a popularizar o conceito, mas a ciência mostrou, nos últimos anos, que esse tipo de visitante é real.
Astrônomos já identificaram corpos que se formaram fora do Sistema Solar e que, após vagarem pelo espaço por milhões de anos, acabam passando pela região do Sol. Um desses visitantes é o 3I/ATLAS, o terceiro objeto interestelar já observado cruzando o Sistema Solar.
Desde sua descoberta, o 3I/ATLAS tem chamado atenção por suas características incomuns e chegou até a gerar especulações sobre sua natureza. Apesar disso, os estudos indicam que se trata de um cometa, ainda que com propriedades diferentes daquelas normalmente vistas nos cometas do nosso sistema.
O que é o 3I/ATLAS
O 3I/ATLAS é um corpo que se formou em outro sistema estelar e foi lançado ao espaço interestelar, seguindo agora uma trajetória que o leva a passar próximo ao Sol. Sua órbita é chamada de hiperbólica, o que significa que ele não ficará preso ao Sistema Solar e seguirá viagem após essa passagem.
Imagens e observações mostram que o objeto apresenta coma e cauda, estruturas típicas de cometas, formadas quando gases e partículas são liberados de sua superfície.
O que surpreendeu os cientistas foi sua composição química. Análises indicam a presença de grandes quantidades de metais, como ferro e níquel, algo raro em cometas conhecidos. O material do 3I/ATLAS se assemelha ao de meteoritos muito antigos, considerados registros dos primeiros momentos da formação planetária.
Comportamento fora do padrão
Outro ponto que chamou atenção foi a atividade do objeto mesmo estando longe do Sol. Normalmente, cometas só começam a “acordar” quando se aproximam mais e o calor solar faz o gelo evaporar. No caso do 3I/ATLAS, sinais de atividade foram detectados a uma distância mais que o dobro da separação entre a Terra e o Sol.
Dados do telescópio espacial James Webb indicam uma quantidade elevada de dióxido de carbono em relação à água. Há ainda indícios de jatos de gás e material congelado saindo de regiões específicas da superfície, fenômeno conhecido como criovulcanismo.
Parte dessa atividade pode ocorrer por reações químicas entre água e metais, capazes de gerar energia mesmo longe do calor do Sol.
Cientistas pedem cautela
Apesar das características incomuns, especialistas afirmam que ainda não há motivo para mudar a classificação do objeto. O astrônomo Cristóvão Jacques, fundador do Observatório SONEAR, explica que o 3I/ATLAS continua sendo um cometa.
“O fato de ele ter uma composição diferente da dos cometas do nosso Sistema Solar não é surpresa. Ele se formou em outro ambiente, sob condições completamente diferentes”, afirma.
Segundo Jacques, enquanto o objeto apresentar coma e cauda, os principais critérios científicos indicam que ele deve ser tratado como cometa.
Passagem próxima, mas sem risco
O 3I/ATLAS fará sua maior aproximação da Terra no dia 19 de dezembro de 2025, quando estará a cerca de 270 milhões de quilômetros do planeta. A distância é segura e não representa qualquer risco.
Para se ter uma ideia, a Terra fica a aproximadamente 150 milhões de quilômetros do Sol.
A Nasa informa que o objeto seguirá sendo observado por telescópios terrestres e espaciais por alguns meses, antes de deixar definitivamente o Sistema Solar e continuar sua viagem pelo espaço interestelar.