Cientistas vêm reforçando a hipótese de que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode estar ligado à própria evolução do cérebro humano — um possível “preço” pago pela inteligência e complexidade cognitiva que diferenciam nossa espécie. Um estudo recente publicado na revista Molecular Biology and Evolution identificou que certas camadas do córtex cerebral humano evoluíram de forma muito mais rápida que as de outros primatas. Essa transformação, associada a genes relacionados ao autismo e à esquizofrenia, teria permitido conexões cerebrais mais sofisticadas, responsáveis por habilidades como linguagem e pensamento abstrato.
Ao mesmo tempo, essa evolução acelerada pode ter tornado o cérebro mais suscetível a variações no desenvolvimento, resultando em manifestações do espectro autista. Pesquisadores apontam que o mesmo processo que nos deu criatividade e capacidade simbólica também ampliou a diversidade de funcionamentos mentais — a chamada neurodiversidade. Alguns especialistas comparam o fenômeno a um “trade-off” evolutivo: a humanidade ganhou um cérebro mais poderoso e adaptável, mas, em contrapartida, mais vulnerável a desequilíbrios sutis em suas conexões. Assim, o TEA deixa de ser visto apenas como um distúrbio, passando a ser entendido como parte da trajetória natural da mente humana.
As novas descobertas convidam a sociedade a repensar o autismo sob uma ótica mais ampla — não apenas como um transtorno a ser tratado, mas como uma expressão legítima da diversidade cerebral que compõe a evolução humana. Entender o TEA dessa forma é também reconhecer que o que chamamos de “inteligência” pode ter múltiplas formas de existir e se manifestar.
Com agências