Diabo Loiro e Carne Seca: Os bandidos mais temidos do Norte do Paraná

A dupla de criminosos Geraldo Fonseca de Souza, conhecido como Diabo Loiro e Luiz Fernandes, o Carne Seca, marcou a região Norte do Paraná nas décadas de 1950 e 1960. Os bandoleiros aterrorizaram diversas cidades, praticando crimes como homicídios, roubos e assaltos.

Suas ações ousadas e audaciosas ganharam notoriedade, sendo frequentemente comparados ao lendário cangaceiro Lampião do Nordeste. Eles agiam em Apucarana, Arapongas, Astorga, Mandaguari, Maringá, Mandaguaçu, Jussara, Campo Mourão, Peabiru e muitas outras cidades da região.

Conforme destaca reportagem publicada no site Correio de Itapetininga, não faltava ousadia ao bando de Diabo Loiro e Carne Seca. A reportagem da revista Estampa diz que a quadrilha roubara um jipe em Arapongas e o abandonara a poucos quilômetros do local com um bilhetinho no para-brisa: “Consertem os freios, que voltaremos para buscar esse jipinho”.

A dupla também viveu em Apucarana por um certo tempo. Em um grupo do Facebook, a participante Neide Bosquini Corrêa relata sua lembrança dos temidos bandidos, que foram inquilinos de sua família.

Me lembro deles sim. Moraram em dois cômodos na nossa casa. Só descobrimos que eram bandidos quando foram presos“, comenta em publicação do grupo Apucarana: Memória e Fotos atuais.

(Reprodução/Facebook)

Já Hélio Ceranto também comenta na mesma publicação relatando uma experiência tensa que seu pai, João Ceranto, que era taxista em Apucarana, viveu diante da presença de Diabo Loiro e Carne Seca.

“Certa noite, [meu pai] foi contratado para uma corrida até Londrina. Adivinha quem eram os passageiros? Carne Seca e Diabo Loiro! Acredito que só não mataram meu pai porque ele era muito comunicativo”, relata.

(Reprodução/Facebook)

Prisão

Segundo a revista Estampa, destaca o site Correio de Itapetininga, os agentes comandados pelo delegado Miranda chegaram a Mandaguaçu em 7 de março de 1958 para investigar uma série de arrombamentos que ocorrera na cidade e região. Um dos crimes fora contra uma menina de 13 anos. Violentada e estuprada, ela permanecera em coma por vários dias.

Um dos poucos registros fotográficos de Luiz Fernandes, o Carne Seca, e Geraldo Fonseca de Souza, o Diabo Loiro, lado a lado. A imagem foi feita durante a prisão da dupla na década de 60.
(Foto: Reprodução/MPB)

A polícia os surpreendeu em uma casa em Bela Vista do Paraíso – município próximo a Londrina. Segundo a reportagem da Estampa, foram presos sem disparar tiros. A revista revela também que “Diabo Loiro” cumprira pena no presídio da Ilha Anchieta, em Ubatuba (SP), que abrigava bandidos perigosos. Ele teria fugido durante uma rebelião, em 1952, e vindo para o Paraná.

A prisão da dupla em 1958 pôs fim à onda de crimes que haviam cometido, totalizando cerca de 360 delitos, incluindo o estupro e assassinato de uma enfermeira no Hospital São Lourenço, em Mandaguaçu, em 1953. Essa prisão foi resultado de uma operação policial comandada pelo delegado Miranda de Assy, da Delegacia de Capturas de Curitiba.

O então delegado de Mandaguaçu, Rodolfo Uhdre, pediu ajuda ao Governo do Estado, que enviou a força especial ao município. Após vários dias em patrulha pela região, a equipe prendeu Augusto Vizoni, o Angelim. Motorista do bando, ele delatou Carne Seca e Diabo Loiro.

O medo se espalhou pela região após os violentos crimes perpetrados pela dupla, levando os moradores a adotarem medidas para reforçar a segurança de suas casas. A população viveu um clima de tensão, especulando sobre quem seria a próxima vítima.

Cidadãos cordiais

Apesar de sua fama de bandidos perigosos, há relatos de que os dois também mantinham boas relações com vizinhos e amigos nas cidades de Mandaguaçu, Maringá, Mandaguari e Apucarana. O mistério em torno da dupla contribuiu para que se tornassem lendas dos casos policiais na região.

Lista tenebrosa de bandidos

Ainda, segundo o site do Correio de Itapetininga, na reportagem da prisão de Diabo Loiro e Carne Seca, em 1958, a revista Estampa, de Maringá, publicou a “lista tenebrosa”, que trazia os nomes dos componentes da quadrilha liderada pela dupla:

Luiz Fernandes (Carne Seca), Geraldo Fonseca de Souza (Diabo Loiro), Sebastião Olindo de Oliveira (Bastião Branco), José Alarcão (Diogo), Reinaldo de Carvalho (Cabeça Branca), João Oliveira (Joãozinho Cozinheiro), Ernesto Galhardo Queiroz (Galhardo), Maria Benedita Moreira (Dona Ditinha), Aladir Alves Oliveira (Filha da Ditinha), Antonio Vicentino (Antônio Velho), Sebastião Fidelis (Bastião Careca), Antônia Tolêncio, Bertolino Bispo dos Santos, Sebastião de Souza Pereira (Bastião Minhoca), Expedito José da Silva (Caxambu), José Tiago Fernandes (Zé Tiago), Augusto Vizoni (Angelim), João Rosa (Anjinho), José Vitório dos Santos (Zezinho), Dino de Tal, Miguel Gomes Batista (Bastião Preto ou Bastião Louco), João Alarcão Filho, Luiz Frangueiro, Elizabete Trindade, Abdala Saddi, Odair José da Silva e Geraldo José de Paula (Bocage).

Acredite se quiser: Dupla pagou jantar ao júri

A reportagem do portal Correio de Itapetininga também trouxe a entrevista do ex-vereador de Mandaguaçu, Arnaldo Mayer Rocco, que na época era motorista da prefeitura, e cumprindo ordens superiores, foi à cadeia de Maringá buscar Diabo Loiro e Carne Seca para o júri, em Mandaguaçu.

Acompanhado de três policiais, ele chegou à cadeia e logo surgiram os dois algemados. Mas o diabo não era tão feio. Eles puxaram conversa com Rocco e vieram batendo papo até Mandaguaçu. Disseram que nunca haviam matado ninguém, apenas tomavam dinheiro de quem vinha comprar terra em Maringá.

Reportagem do jornal Diário da Noite, de 22 de Dezembro de 1961

Na volta para Maringá, de onde seriam transferidos para Curitiba, eles pagaram um jantar em um restaurante que havia em Iguatemi para os policiais e as pessoas envolvidas no júri. Sem algemas conversaram amistosamente com policiais e funcionários do Fórum. “Não pareciam os bandidos que tinham aquela fama”, afirma Rocco.

Diabo Loiro e Carne Seca foram condenados a 30 anos de prisão. Após a condenação, eles foram transferidos para a Penitenciária Central do Estado, em Curitiba.

Convertidos

Durante pesquisa para elaborar essa reportagem, encontramos relatos de leitores de alguns blogs, fóruns e publicações de redes sociais que reafirmam certas informações acerca dos bandoleiros.

Como não podemos comprovar a veracidade dos fatos mencionados por internautas, deixamos abaixo alguns relatos com link disponível para a publicação de origem.

Um leitor do blog MPB Maringá, Paraná, Brasil relatou que Carne Seca se converteu ao Evangelho na década de 1960.

Em 1968 ele e o Carne Seca havia se tornado membros da Assembleia de Deus, digo isso com firmeza porque eu os conheci nessa época na cidade de Arapongas quando vieram dar seus testemunhos na Assembleia”, conta.

Outro usuário comenta na mesma publicaçãoEu cheguei neste artigo pela minha vó ele realmente se converteu hahaahahah, ela frequentava a mesma igreja“.

Que fim levaram

As informações sobre o destino de Diabo Loiro e Carne Seca após a condenação e transferência para Curitiba ainda são poucas que podem ser comprovadas de forma oficial. Contudo, ainda na mesma publicação do blog Maringá, Paraná, Brasil, usuários relatam que Diabo Loiro saiu do crime e Carne Seca voltou à vida criminosa.

“O Carne Seca saiu da penitenciária de piraquara em 1982, e foi morar em Curitiba. Voltou a vida criminosa, foi preso, mas devido a sua idade avançada e problemas de saúde, a justiça do Paraná, decidiu conceder lhe a liberdade, logo em seguida faleceu.”, diz um internauta.

O mesmo usuário ainda relata sobre Diabo Loiro. “O Diabo Loiro, trabalhou na penitenciaria como ajudante do dentista, aprendeu a profissão de protético e fazia dentaduras para os presidiários, mediante pagamento e chegava até mesmo a extrair dentes em algumas situações, era crente e morava na periferia de Piraquara, ambos eram calmos, educados e não gostavam de falar sobre o passado na criminalidade“, completa.

Se os relatos acima são fatos, ainda não podemos comprovar. Mas o fato é que mesmo depois de tanto tempo, o nome dos bandoleiros Carne Seca e Diabo Loiro permanece vivo na memória popular.

Conteúdo Extra: Reportagem especial de Gil Gomes sobre a vida de Carne Seca

Por Louan Brasileiro


Fontes: Correio de Itapetininga, JC Cecílio / Blog Maringá, Paraná, Brasil, Grupo Facebook Apucarana: Memória e Fotos Atuais, Revista “A Estampa do Norte do Paraná” – Abril de 1958 (Ano 1 – N° 3) e Canal Notícias Populares.

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