Mapa do cemitério/ Sivana Olivieri – UFBA
Um antigo cemitério localizado sob um estacionamento no centro de Salvador (BA), que funcionou entre os séculos 17 e 19, abriga mais de 100 mil corpos, a maioria de escravizados. A descoberta foi apresentada pelo Ministério Público da Bahia na última semana.
O cemitério hoje funciona como um estacionamento pertencente à Santa Casa de Misericórdia e pode ser o maior de pessoas escravizadas da América Latina. Segundo o MP, a área serviu como local de enterro de africanos escravizados e pessoas marginalizadas, incluindo pobres, excomungados, suicidas, prostitutas e criminosos, durante aproximadamente 150 anos, até sua desativação em 1844.
A localização do cemitério foi resultado da pesquisa de doutorado da arquiteta urbanista Silvana Olivieri. A pesquisadora utilizou mapas históricos do século 18, fotos de satélite atuais e documentos históricos.
Já no terceiro dia das escavações, foram encontrados os primeiros vestígios: fragmentos de objetos e porcelanas do século XIX. Cerca de 10 dias depois, os arqueólogos localizaram as primeiras ossadas humanas.
Apesar da importância histórica e arqueológica do local, o estacionamento continua em funcionamento. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) recomendou que a Santa Casa suspenda o uso do espaço, mas a decisão ainda não foi implementada.
Entre os corpos enterrados, podem estar participantes da Revolta dos Búzios (1798), da Revolução Pernambucana (1817) e da Revolta dos Malês (1835), além de integrantes de outros movimentos de resistência negra no Brasil.
Fonte: O Estado de Minas