Nesta sexta-feira (31), ouvinte da Rádio 98FM que preferiu não se identificar, desabafou sobre o perigo iminente que enfrenta como pedestre na cidade. “A gente anda aqui na cidade aqui, meus queridos, tem que apagar essas faixas de pedestre. Eles não respeitam ninguém. A cidade de Apucarana tá terrível. Eles não respeitam a gente. Quase que eu fui atropelado agora, eles não respeitam. Tem que falar pro prefeito apagar essas faixas de pedestre e colocar só lá na praça que lá na praça eles respeitam. Em outros lugares eles não respeitam. Hoje, agora eu sou pedestre, mas daqui dois minutos eu vou pegar o meu carro. Tá de brincadeira, viu? Tá de brincadeira mesmo”, disse o cidadão, que também é motorista, em um relato que expõe a dupla perspectiva de quem vive o trânsito por diferentes ângulos.
O sentimento de impotência do morador de Apucarana reflete um problema cultural e de fiscalização. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é claro ao estabelecer a prioridade do pedestre na faixa, mesmo que não haja semáforo. A infração é considerada gravíssima, com multa de R$ 293,47 e sete pontos na carteira. No entanto, a impunidade e a falta de uma fiscalização mais rigorosa contribuem para a perpetuação do desrespeito.
A crescente estatística de atropelamentos em faixas de pedestres no Brasil revela uma dura realidade: a travessia, que deveria ser um momento de segurança, tornou-se um ato de coragem. O desabafo de um cidadão de Apucarana, no Paraná, que sugere a extinção das faixas como uma solução drástica para o desrespeito dos motoristas, ecoa a frustração de muitos brasileiros que se sentem invisíveis e desprotegidos nas ruas do país.
O simples ato de atravessar a rua em uma faixa de pedestres tem se tornado um desafio diário para milhões de brasileiros. A sensação de insegurança é corroborada por dados alarmantes. Entre 2014 e 2023, mais de 60 mil pedestres perderam a vida em acidentes de trânsito no Brasil, uma média de 15 mortes por dia. Apenas em 2023, foram registrados mais de 12 mil atropelamentos com vítimas graves ou fatais, segundo dados do Ministério da Saúde e da Polícia Rodoviária Federal.
Especialistas apontam que a solução para o problema passa por uma abordagem multifacetada, que envolve desde a melhoria da infraestrutura, com faixas bem sinalizadas e iluminadas, até a educação e a conscientização de motoristas e pedestres. Campanhas como o Maio Amarelo buscam chamar a atenção para a importância do respeito e da segurança no trânsito.
Em Apucarana, a prefeitura tem investido em faixas de pedestre com um novo modelo, mais visível, e na capacitação de guardas municipais para atuarem como agentes de trânsito, na tentativa de coibir as infrações e proteger os mais vulneráveis. Enquanto as soluções não se tornam uma realidade em todo o país, a faixa de pedestres, que deveria ser um símbolo de segurança e civilidade, continua sendo um espaço de disputa e risco, onde a lei do mais forte, ou melhor, do mais rápido, ainda prevalece.
Imagem Reprodução – Quatro Rodas
Agência Rádi0