Na visão utópica de um passado que ainda respira sob o solo fértil, Apucarana revela um elo entre a ciência e o encantamento — um território que nasceu das entranhas do planeta. Assim sendo, imagine um tempo em que o chão vibrava com a força do fogo e o horizonte não era feito de prédios e montanhas suaves, mas de rios de lava que moldavam a paisagem. Apucarana, hoje símbolo de serenidade e produtividade, teria sido, em um passado longínquo, palco do poder mais primitivo da Terra — o fogo que cria e transforma.
O nome “Apucarana” e sua origem
A origem do nome Apucarana é tupi-guarani, com duas interpretações principais: “semelhante à própria floresta” ou “lugar que me faz sorrir”. A primeira interpretação, baseada em “apó” (base), “caarã” (semelhante à floresta) e “anã” (imensa), sugere um significado ligado à vasta natureza que a rodeia, conforme explica o FamilySearch. Já a segunda interpretação, proposta pelos estudiosos Abrahan Mongelóz Diaz e César Bejarano, sugere que “Apucarana” seja uma derivação de “apucá” (sorrir) e “apucará” (fazer sorrir), significando “lugar que me faz sorrir”.
A utopia dessa nova Apucarana, começa nesse ponto: onde hoje a vida urbana pulsa sobre ruas arborizadas e a Catedral ergue-se como guardiã do tempo, há milhões de anos reinavam mares de magma. As camadas basálticas que hoje sustentam casas, praças e plantações foram, um dia, o coração incandescente de um mundo em formação.
A cidade que nasceu do fogo e virou solo fértil
Os cientistas dizem que os vulcões que criaram a chamada Formação Serra Geral não eram montanhas solitárias, mas fendas que se abriram no continente, derramando lava até onde o olhar alcançava. Com o tempo, o fogo se fez pedra, a pedra se fez solo — e o solo se faz vida.
O resultado dessa metamorfose é a terra roxa, que cobre o norte do Paraná com uma fertilidade rara. É o mesmo solo que deu origem às lavouras, às colheitas e ao modo de vida de Apucarana. Um chão que alimenta e ensina: da destruição vem o renascimento.
Sob o chão, a história pulsa
Os pesquisadores Maria do Carmo Carvalho Faria e Maria Aparecida Dutra, da Universidade Estadual de Londrina, e o geólogo Luiz Alberto Fernandes, da Universidade Estadual de Maringá, descrevem esse legado com precisão científica. Para eles, Apucarana repousa sobre rochas basálticas formadas há cerca de 130 milhões de anos, quando o planeta ainda desenhava os contornos do que hoje chamamos de Brasil.
Mas há algo que a ciência e o imaginário têm em comum: ambos reconhecem que o solo da cidade guarda memórias profundas. Cada grão da terra vermelha é uma partícula de tempo, um eco do passado quente que deu origem ao presente verde.
A utopia do solo vivo
E se cada morador pudesse ouvir o que está sob seus pés? Talvez o solo contasse histórias de fogo e criação; talvez ensinasse que a força da cidade vem da capacidade de se reinventar, tal como o planeta fez um dia. Apucarana, na utopia que aqui se desenha, não está sobre um vulcão adormecido — mas sobre a lembrança eterna de um vulcão que sonha. Um sonho geológico que se transformou em realidade fértil, em cidade, em lar.
A utopia de Apucarana não está no medo de um vulcão que possa despertar, mas na consciência de que o fogo do passado ainda aquece o presente — não nas entranhas da terra, mas no orgulho de um povo que vive sobre ela. Aqui, o chão é mais do que base: é memória, é energia, é identidade. Apucarana, afinal, é a cidade onde o fogo virou vida.
Agência Rádi0