A aprovação do texto-base que põe fim à escala 6×1 pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, na última quarta-feira (10), acendeu um sinal de alerta no setor produtivo do Paraná. Enquanto trabalhadores celebram o avanço da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a redução da jornada para 36 horas semanais, entidades empresariais, lideradas pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), manifestam profunda preocupação com os reflexos econômicos da medida.
Reflexos em Apucarana: Do Comércio ao “Boné”
Em Apucarana, a repercussão segue a linha de cautela estadual. A cidade, conhecida como a Capital Nacional do Boné, possui uma malha industrial composta majoritariamente por pequenas empresas familiares e facções de costura, que operam com margens de lucro apertadas.
Empresários ligados à ACIA (Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana) temem que a medida force uma reengenharia de custos insustentável. Se a FIEP aponta riscos para grandes indústrias, o temor local é que o pequeno confeccionista não consiga arcar com horas extras ou com a contratação de novos turnos para cobrir a folga adicional dos funcionários, resultando em encarecimento do produto final ou informalidade.
O Posicionamento da FIEP
A FIEP – Federação das Indústrias do Paraná, que representa o setor industrial paranaense — motor de empregos em cidades como Apucarana —, adotou um tom crítico em relação à obrigatoriedade constitucional da mudança. Para a Federação, a redução da jornada sem a correspondente redução salarial impacta diretamente o “Custo Brasil”.
Em análises recentes sobre o tema, a entidade argumenta que a imposição de uma carga horária menor via legislação ignora a realidade de pequenas e médias indústrias. A posição da FIEP é que mudanças na jornada deveriam ocorrer via negociação coletiva, respeitando a produtividade de cada setor, e não por uma regra geral que pode inviabilizar negócios e, paradoxalmente, desestimular novas contratações formais.
O Grande Debate: Os Dois Lados da Moeda
Para entender o que está em jogo nesta votação histórica, a reportagem listou os principais argumentos que dividem opiniões no país e na cidade:
O Lado do Trabalhador e Defensores da PEC
Saúde e Bem-estar: O fim do 6×1 é visto como vital para reduzir o esgotamento físico e mental (burnout), permitindo que o trabalhador tenha tempo para família, lazer e qualificação.
Geração de Empregos: A tese (defendida por órgãos como o DIEESE) é que, para manter as empresas funcionando 6 ou 7 dias na semana com jornadas individuais menores, os patrões precisarão contratar mais gente, reduzindo o desemprego.
Produtividade: Defensores argumentam que funcionários descansados produzem mais e melhor em menos tempo.
O Lado do Setor Produtivo (Empresários, FIEP e ACIA)
Explosão de Custos: Manter o mesmo salário por menos horas trabalhadas encarece a hora-homem. Para a FIEP, isso tira a competitividade da indústria paranaense frente a produtos importados (como os chineses).
Risco de Inflação: O aumento no custo de produção tende a ser repassado ao consumidor. O pão, a roupa e o serviço podem ficar mais caros em Apucarana.
Sobrevivência das PMEs: Pequenos comércios e indústrias afirmam não ter caixa para dobrar equipes. O resultado poderia ser o fechamento de portas ou a automação de funções, gerando demissões em vez de contratações.
Próximos Passos
O texto aprovado na CCJ prevê uma transição suave, com a redução de uma hora na jornada por ano, até atingir o limite de 36 horas semanais. A matéria agora segue para o Plenário do Senado, onde precisará de 49 votos favoráveis em dois turnos antes de ir para a Câmara. A pressão de ambos os lados — sindicatos e confederações patronais — promete ser intensa nas próximas semanas.
Da Redação 98FM